17 de maio de 2009

Poesia


Sou do tempo distante chamado tempo da onça, que se amarrava cachorro com lingüiça, que domingo era dia de ir na missa, do chapéu ramenzoni e camisa volta ao mundo, que adultério era crime e as garotas eram papo firme.

Do buscapé , do rojão e do xarope são João, que futebol era só de macho, que meninos gostavam de meninas, que ninguém sossegava o facho nos bailes de debutantes, da orquestra de Tupã e dos plays boys botando banca.

Sou do tempo que nos bailes que não podia dar tabua sem que o rapaz ficasse com muita magoa, Tempo em que telefone era preto e geladeira era branca, do confete, serpentina e lança perfume, nos bailes de carnaval, cantando cadê minha vaca malhada, tempo que dançar de rosto colado já era namorado, e se sentasse no cinema em lugar escuro, salvar a reputação era jogo duro.

Sou do tempo da calça boca de sino, do terno risca de giz, de ir ver jogo de futebol e lembrar da mãe do juiz. Tempo que ficar era não ir e demorou era chegar atrasado, Do laquê, da pasta azul e da brilhantina, do tergal, da helanca e do banlon e o cinema com mocinho e vilão. Tempo que correio não tinha sedex, mulher não usava brinco e portas não tinha trinco, do coreto, da banda, do leite de magnésio, do sagu e fubámimoso, e andar na rua mesmo de noite não era perigoso.

Tempo do circo, das lutas da Olga Zumbano, com torcida de verdade sem ficar zoando. Tempo em que Benjor era Jorge Bem e carne de bife era acém, leite era vendido pelo leiteiro de carrocinha, saído da teta da vaca ainda bem quentinho.

Sou do tempo da charrete do Berola, descia a rua dentro de pneu, andava de carrinho de rolimã e soltava pipa com rabiola. Tempo da cibalena, do avon, do calcigenol, do biotonico Fontoura, balsamo benguê e cafiaspirina, da revista Cruzeiro, da caneta tinteiro e da cera parquetina.

Vi muitos shows da família Oliveira e com meus pais aprendi boas maneiras e andar sem mexer as cadeiras. Sou do tempo que se curtia a vida, sem medo de bala perdida, tempo de respeito aos pais, que infelizmente não volta mais. Só não fui garçon da santa ceia, apenas boa memória, muita saudade e sangue nas veias.
Autor desconhecido

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