Por Thiago Tufano
http://esportes.terra.com.br/futebol/estaduais/2009/interna/0,,OI3657885-EI12378,00.html
Quem gosta de futebol, gosta de rádio. E quem gosta de futebol tem na cabeça um gol inesquecível ouvido pelo rádio. A dúvida é: será que as vozes que narram esses gols têm um gol predileto? Fomos buscar a reposta com oito narradores e descobrimos que eles têm sim um gol preferido, um gol que, pela circunstância em que se deu, fez sair de cada um deles uma narração mais visceral, mais emotiva, mais inesquecível. Aqui, eles falam sobre esse gol e o momento em que ele aconteceu. Ouvir a essas narrações depois de entender o que levou determinado narrador a reagir daquela forma faz com que o gol fique ainda mais emocionante.
Éder Luis - Transamérica
Jogo: Alemanha 0 x 2 Brasil, final da Copa do Mundo de 2002Data: 30/6/2002Local: International Stadium Yokohama, em Yokohama, JapãoPúblico: 69.029Autor do gol: RonaldoEmissora: Transamérica
"Foi marcante por uma série de razões. Ao lado do Rivaldo, ele foi um dos mais decisivos da Copa do Mundo. Existia um questionamento muito grande em cima dele. Foi um gol de superação, de provação, para inspirar qualquer um. É aquela coisa da procura, driblar os obstáculos. Foi um dos gols mais importantes da história do futebol brasileiro.
Eu estava muito tenso. Nessas horas, não adianta você tentar separar o lado torcedor de jornalista, mas por tudo que aconteceu estava muito confiante. A Alemanha estava com um time que, embora tenha chagado à final, não teve uma campanha convincente, mas era um time que poderia surpreender.
Um jogo como esse, assim como aquele do Maradona (Copa de 1986), a gente sabe que algo de especial vai acontecer, que seja uma vitória ou uma derrota da Seleção. Seria o quarto título da Alemanha e seria, como foi, o quinto do Brasil. É um jogo que exige um nível de concentração muito grande.
Eu não tinha nada preparado na cabeça, para fazer a narração dos gols, mas na hora, inspirado pela situação, veio uma coisa, inclusive no gol aparece, eu falando que aquilo é uma lição de vida, porque brasileiro é isso, uma luta diária para chegar aonde quer. Ele era um cara que inspirava um País todo. Todos falavam que não teria condições de jogar, mas ele jogou e ainda fez dois gols em uma final de Copa do Mundo".
José Silvério - Bandeirantes
Jogo: Palmeiras 4 x 0 Corinthians, final do Paulista de 93Data: 12/6/1993Local: Estádio do Morumbi, em São PauloPúblico: 104.401Autor do gol: EvairEmissora: Jovem Pan
"Foi um gol de pênalti, mas o Palmeiras não era campeão há muito tempo. Eu já estava em São Paulo há muitos anos e era o único time da capital que não tinha narrado nenhum título. Na hora eu falei 'e agora eu vou soltar a minha voz'. É uma frase tão simples, mas que ninguém falava e agora um monte de gente fala isso.
Sempre gostei muito do Evair. Embora nem o conheça pessoalmente. Sempre achei que foi um jogador muito injustiçado. Isso na minha visão. Foi um dos maiores centroavantes que o futebol brasileiro teve e nunca foi um cara tão badalado e reconhecido.
Eu achava que realmente o clima estava bom para o Palmeiras ser campeão porque estava jogando bem. É aquilo de conhecer, de saber quando o time será campeão. Já esperava que o Palmeiras iria conquistar aquele título.
Foi um jogo atípico. A torcida do Palmeiras estava uma loucura. No dia seguinte, a Jovem Pan colocou a fita do jogo à venda e tinha uma fila na galeria na Avenida Paulista. E eu, completamente desligado, passando tranqüilo por lá, alguém caiu na besteira de falar que eu era o José Silvério. Aí começaram a me pedir autógrafo na própria fita".
Moura Júnior - Transamérica
Jogo: Atlético-PR 3 x 0 Vitória, segunda fase da Copa do Brasil de 2007Data: 5/4/2007Local: Arena da Baixada, em Curitiba, ParanáPúblico: 15.526Autor do gol: Dênis MarquesEmissora: Transamérica
"Estou completando 12 anos de transmissões esportivas e já vivi grandes emoções em vários jogos, decisões e muitos gols. Por esse motivo não quero ser injusto com as torcidas de Paraná Clube, Atlético e Coritiba. Procuro sempre fazer um trabalho imparcial. Transmiti jogos dos três em todas as competições inclusive na Libertadores. São oito anos só de Transamérica onde certamente poderia escolher um gol de cada clube. Porém tenho que optar somente por um. Escolhi o jogo da volta Atlético-PR e Vitória pela Copa do Brasil. O Atlético foi goleado por 4 a 1 fora de casa e todos achavam que o time já estaria desclassificado da competição. A torcida fez a sua parte lotando a Arena e os jogadores sentiram o grande momento na busca pelos três gols que dariam a chance de continuar.
A vibração do local com a presença do público era muito forte e contagiante. Bastava essa vibração sair das arquibancadas e chegar ao gramado. E foi exatamente o que aconteceu.
Por ser espiritualista e acreditar nas forças da natureza, sempre procuro trabalhar a emoção do momento. E o momento exigia uma dose "tripla de emoção" acreditando que iria narrar os três gols necessários nesse jogo. Não torço para nenhum dos três times porém, como profissional, vivo e respiro durante os noventa minutos tentando sentir sempre a vibração que vem do torcedor e transformar tudo isso em pura emoção ao microfone.
A nossa transmissão é bem diferente das tradicionais. Usamos muitas músicas e efeitos durante toda a transmissão. Temos também um personagem de sucesso com o nome de ET. Sempre temos uma surpresa a cada jogo, pois nunca combinamos nada antes e simplesmente deixamos a coisa acontecer. Nesse jogo surgiu a idéia de fazer uma contagem até chegar no número mágico de três ou seja antes de narrar cada gol surgia a palavra o primeiro e assim por diante. A festa foi geral e recebeu o brilho da sonoplastia utilizada durante as transmissões. Sonoplastia comandada pelo ET".
Daniel Oliveira - Bandeirantes
Jogo: Inter 1 x 0 Barcelona, final do Mundial de Clubes de 2006Data: 17/12/2006Local: International Stadium Yokohama, Yokohama, JapãoPúblico: 67.128 Autor do gol: Adriano Gabiru
"Quando o Fernandão saiu para entrada do Gabiru era inegável o pessimismo. Mas não era por acaso que ele ia entrar. Na narração, dizia que era o jogo da vida. Pela importância da competição. Falei na narração como se estivesse conversando com o Adriano e falando que ele ia escrever o nome da história. Muitos não acreditavam na vitória do Inter. Não se tinha uma grande certeza de que o Inter chegaria.
A entrada do Gabiru se tornou um banho de água fria, porque o Fernandão estava em uma grande fase. O Gabiru estava mal e o Inter marcando feito um condenado. Isso chamou muita atenção. Na hora da entrada do Gabiru o torcedor ficou pessimista. Mas era para ser mesmo. Foi um ano depois que o Inter perdeu para o Corinthians no Brasileiro, naquele campeonato polêmico. Não foi à toa que o destino não quis que fosse campeão brasileiro, foi uma espécie de recompensa.
Nós vivemos muito o dia daquela final. Às 4h30 eu estava indo para rádio. Os bares já estavam abertos. Era uma outra atmosfera. Nem no Gre-Nal está se vivendo o que se viveu aquele dia. Era algo inédito. O Grêmio tinha conquistado o Mundial e o Inter estava tentando igualar. Era a única chance porque foi um caminho muito difícil.
O que chamou atenção era a certeza dos jogadores nas entrevistas dizendo que iriam vencer. Você fazia qualquer tipo de pergunta e falavam que iam ser campeões. O Perdigão dizia toda hora que o Inter seria campeão. Eu não achei que o Inter iria conquistar aquele título, mas como os jogadores estavam otimistas, o Abel (Braga, treinador), os reservas apoiando, comecei a acreditar".
Willy Gonser - Itatiaia
Jogo: Atlético-MG 2 x 0 Olímpia, final da Conmebol de 1992Data: 16/9/1992Local: Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, Minas GeraisPúblico: 60.116Autor do gol: NegriniEmissora: Itatiaia
"Essa foi uma jogada linda, mas é mais pela importância. O Mineirão estava lotado. Aquela vibração da torcida, em um lance pessoal do Negrini, foi lindo. Sou atleticano e gremista e não escondo isso. O importante é saber separar do profissional, mas todos têm um time.
A gente nunca tem idéia do que se pode acontecer em um jogo de futebol e dentro de uma cabine de rádio. Esperamos sempre o melhor, para poder descrever da melhor forma".
Ênio Rodrigues - Tupi
Jogo: São Paulo 3 x 2 Palmeiras, Campeonato PaulistaData: 14/07/1985Local: Estádio do Morumbi, em São PauloPúblico: 16.580Autor do gol: MullerEmissora: Bandeirantes
"Narro desde os 17 anos. Comecei em Araraquara, como locutor de estúdio. Eles acharam que eu tinha a voz boa e resolveram me testar para o futebol. Fiz a transmissão e não deixaram mais eu parar. Aí a Bandeirantes foi me buscar. Hoje estou com 72 anos. Só faço comentários, participo dos jogos e faço comentários na rádio Tupi. É uma equipe que só faz a Portuguesa. Fazem todos os jogos da Portuguesa onde estiver. Parei de narrar por problemas de saúde, mas faço comentários".
Sílvio Mendes - Sociedade
Jogo: Vitória 3 x 2 Santa Cruz, segunda fase da Copa do BrasilData: 22/3/2006Local: Estádio Barradão, Salvador, BahiaPúblico: 11.495Autor do gol: MendesEmissora: Sociedade
"Aquele terceiro gol do vitória contra o Santa Cruz, que levou o time à classificação na Copa do Brasil. O Mendes jogava no Vitória. Ele fez o gol de cabeça contra o Santa Cruz e classificou o time. Foi demais. A narração é muito mais emotiva porque o Mendes é meu filho e no microfone ficou diferente. A emoção toma conta de mim e a voz quase some".
Luiz Penido - Tupi
Jogo: Botafogo 1 x 2 Flamengo, final da Taça Guanabara de 2008Data: 24/02/2008Local: Estádio do Maracanã, no Rio de JaneiroPúblico: 78.830Autor do gol: Diego TardelliEmissora: Tupi
"Falo na narração que o Fla era campeão. Arrisquei isso. Senti que a bola ia entrar. Eu disse que ele faria o gol do título durante a narração. Percebi que o jeito que ele dominou ele faria. Cansei de ver o Tardelli fazer esse tipo de gol, no São Paulo, inclusive. Disse 'vai fazer o gol'".
Jogo: Palmeiras 3 x 4 Vasco, final da Copa Mercosul de 2000Data: 20/12/2000Local: Estádio Palestra Itália, em São PauloPúblico: 29.993Autor do gol: RomárioEmissora: Tupi
"Foi uma emoção muito grande. Foi uma surpresa. Nem eu nem ninguém esperava aquilo. Não há registro de uma final de virada. Até existe virada, mas do jeito que foi não. O time que estava em casa ganhando por 3 a 0 tinha 11 em campo contra dez do time visitante. Podia acontecer tudo menos o Palmeiras perder aquele título. O gol foi feito quando o jogo ia acabar, faltava um minuto e meio. Fui tomado por uma surpresa muito grande. Foi fora do normal".
28 de março de 2009
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